sábado, 19 de dezembro de 2009

Farmácia Viva!!!

Raizeiras comprovam que saberes tradicionais associados ao uso de plantas medicinais podem, a um só tempo, melhorar o sistema de saúde e preservar o meio ambiente

Foto: Fernanda Barreto
Farmacia-viva---foto-1.jpg
A raizeira Elza Conceição na horta comunitária do I. Kairós

11/12/2009 - O conhecimento sobre o uso das plantas medicinais forma hoje a chamada “fitoterapia popular”, uma prática alternativa adotada por milhares de brasileiros que não têm acesso às práticas médicas oficiais. De olho em fortalecer o cultivo e o manuseio destas plantas, incorporando o conhecimento popular de raizeiras e benzedeiras ao Programa Saúde da Família (PSF), um grupo de 12 voluntárias já produz e repassa sete tipos de remédios caseiros ao único posto de saúde do distrito de Macacos (MG), de onde são distribuídos gratuitamente para cerca de 250 famílias.

Macacos fica no município de Nova Lima, a 30 quilômetros de Belo Horizonte. Apesar da proximidade com a capital, o distrito de 2 mil habitantes possui apenas um posto de saúde e nenhuma farmácia. Desenvolvido pelo Instituto Kairós, o programa Farmácia Viva tenta compensar a deficiência promovendo a articulação de uma rede de 25 raizeiras, a criação de hortas comunitárias, a validação científica dos fitoterápicos pelo PSF e a inclusão dos medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS). Anualmente, são distribuídos cerca de 400 frascos de medicamentos, como o Gel Bactericida, a Loção para Piolho e o Xarope para Asma.

“Em 2004, demos início ao programa e percebemos um conhecimento riquíssimo ainda não sistematizado”, lembra a superintendente-executiva do Instituto Kairós, Rosana Bianchini. O protagonismo não é à toa, explica. De um lado, a falta de infra-estrutura médica manteve viva e diversa a utilização de plantas medicinais por dezenas de famílias sem acesso aos postos de saúde. De outro, contribuiu uma exuberante área de Mata Atlântica em transição para o Cerrado, onde já foram identificadas mais de cem plantas medicinais entre nativas e exóticas, extraídas da própria floresta ou cultivadas em quintais familiares.

“Só de saber que uma pessoa toma o seu remédio, você fica feliz demais. Xarope nosso vai para o posto e no outro dia não tem mais”, sorri a raizeira Elza Conceição Madalena, de 61 anos. Para tosse, por exemplo, ela recomenda limão e eucalipto, cozidos e adocicados com rapadura. As plantas, avisa, têm que ser colhidas na lua minguante e secadas na sombra, para não desidratar. A segurança vem da tradição passada pela mãe, que se mudou para Macacos, em 1949, com sementes e mudas de plantas medicinais na boléia do caminhão que trazia a família de Lafayete, município no interior do estado. Elza tinha então quatro meses e os pais vinham como caseiros de um sitiante. Na falta de uma farmácia, ela e os seis irmãos sempre foram tratados a base de fitoterápicos. “Aqui nunca teve ônibus, luz, água. Chegamos e eram três casas, sendo que uma era a igreja”, lembra.

Quem conhece bem esta rotina é a amiga e também raizeira Nilza Nazareth de Lima, de 58 anos. Em Macacos desde 1975, ela garante ter tratado a filha com bronquite a base de flores do campo. Em caso de emergência médica, mais dificuldades: eram pelo menos quatro horas de caminhada até a BR-040, com a sorte de encontrar uma carona até os municípios de Nova Lima ou Belo Horizonte em busca de um centro de saúde. “Já passei muita noite com eles (filhos) no terreiro, fora de casa. Com falta de ar, eles não conseguiam nem ficar dentro de casa”, lembra Nilza, que é uma das 12 voluntárias que se engajaram no projeto: “Hoje, a gente é reconhecida. Tem gente que bate na minha casa às 22h pedindo remédio. E é isso: o que a gente sabe, tem que dividir”.

Integração de saberes

Além de fortalecer o cultivo, outro objetivo do programa é integrar os médicos do PSF. O caminho é imprescindível, explica o médico Marcelo Galantini, que há três anos acompanha o trabalho das raizeiras. Primeiro,
Foto: Fernanda Barreto
Farmacia-viva---foto-2.jpg
A raizeira Nilza Lima é uma das 12 voluntárias do programa
diz, é preciso identificar corretamente as plantas e outras substâncias utilizadas, decidir quais remédios são úteis e suprimir aqueles que são, evidentemente, ineficazes ou perigosos. Isso implica a classificação científica de todas as ervas utilizadas na preparação dos remédios e o reconhecimento pelos médicos do PSF sobre o uso das plantas medicinais como alternativa em tratamentos.

“A intenção é que o paciente saia do centro de saúde com o fitoterápico e o prontuário na mão. Essa é uma tendência que pode ampliar nosso arsenal terapeutico, com baixos custos e eficiência comprovada”, avisa Galantini. A troca de saberes, completa Nilza, também serve aos dois lados. Ela, por exemplo, passou a usar avental, luva, máscara e toca ao manusear as plantas, além de controlar a quantidade de ervas usadas em cada medicamento. “Antes usava as ervas a revelia. Hoje também sei como manipular as plantas na medida certa. Se o guaco for verde, por exemplo, é preciso fervê-lo sem tampar a panela. Se estiver seco, pode tampar porque as toxinas já saíram”, ensina.

Inovação

O fornecimento de fitoterápicos ao SUS, adianta o Kairós, não chega a ser uma novidade. O que há de inédito é o seu desenvolvimento por meio de um arranjo solidário validado por processos de pesquisa. “Queremos um Arranjo Produtivo Educativo Solidário que tenha foco na implantação e sustentação do serviço de fitoterapia no SUS e que seja consolidado por uma rede colaborativa de desenvolvimento social”, resume Rosana.

Segundo ela, isso vai além de estruturar a Farmácia Caseira Comunitária. Significa também abrigar todos os aspectos da cadeia produtiva, desde o plantio das ervas, a validação científica dos medicamentos e o acompanhamento do uso de acordo com as normas da vigilância sanitária, da Organização Mundial de Saúde (OMS) e das diretrizes municipais dos programas públicos de saúde. O segundo passo, avisa, é incorporar oficialmente este programa em toda rede municipal de saúde como uma ação preventiva e de segurança alimentar, beneficiando as comunidades e gerando um processo de autonomia nos processos de saúde do município.

Para chegar lá, o Kairós aposta na mobilização do próprio distrito de Macacos, importante centro turístico no entorno de Belo Horizonte. Restos de poda de bares e restaurantes, pousadas e condomínios serão recolhidos e utilizados como adubo orgânico para um horto de mudas, que resultará em quintais produtivos e hortas comunitárias responsáveis por fornecer as plantas medicinais a serem utilizadas pelo SUS. No caso das espécies nativas, estão previstos planos de manejo. “É assim: você pede licença à árvore, tira um pedaço da casca e coloca barro para cicatrizar. Outra coisa é cuidar com amor, com o coração, para o remédio dar mais certo”, ensina Elza.

Saiba mais

Em seu programa de Agroecologia, o Instituto Kairós desenvolve desde 2004, em Macacos, projetos voltados à valorização e ao uso do conhecimento popular a respeito das plantas medicinais, além de ações que fortalecem a prática da segurança alimentar e da agricultura orgânica. A Tecnologia Social Farmácia Viva recebeu em 2007 uma certificação nacional concedida pelo Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil. Em 2008, passou a liderar o programa preventivo de política pública do SUS na localidade e recebeu o Prêmio FINEP de Tecnologia Social e Inovação na região Sudeste.

Por Vinícius Carvalho, jornalista do Portal da RTS

domingo, 13 de dezembro de 2009

Fórum Social Mundial

» Fórum Social 10 anos: página no ar

Está no ar a página do Fórum Social 10 anos - Grande Porto Alegre, evento que iniciará as comemorações dos 10 anos do Fórum Social Mundial.
Nos próximos dias será possível fazer a inscrição para participação nas atividades do FS10anos-Grande Porto Alegre pela página. haverá uma taxa de inscrição no valor de R$20,00 por participante, com direito à bolsa do evento que será confeccionada pelos grupos da economia solidária do RS.
As atividades do Fórum Social 10 anos serão em cidades da grande Porto Alegre. Todas as manhãs de 25 a 29 de janeiro, em Porto Alegre, acontecerão seminários de balanço e construção de agendas. A economia solidária estará presente nestes seminários:
26/01 - seminário sobre conjuntura econômica: participação de Paul Singer
27/01 - seminário Elementos de uma nova agenda I, mesa sobre sustentabilidade: participação de Coraggio
28/01: Elementos de uma nova agenda II, mesa sobre rganização do estado e poder político: nancy, do chantier do quebec/ canadá
Além de estarmos na Assembléia dos Movimentos Sociais, dia 29/01, na caminhada de abertura, dia 25/01 e nas demais atividades que acontecerão.
Acessem a página: http://www.fsm10.org/

» Inscrições abertas para o Fórum Social de Economia Solidária

Fonte: Rosana Kirsch (rosanak@fbes.org.br)
O Fórum Social de Economia Solidária e a Feira Mundial de Economia Solidária acontecerá entre os dias 22 a 24 de janeiro, em Santa Maria/ Rio Grande do Sul, e de 25 a 29 de janeiro, na grande Porto Alegre.
A página dos eventos já está no ar, sendo possível fazer a inscrição para a feira via site, bem como fazer a inscrição de atividades autogestionárias, atividades culturais, para a mostra de biodiversidade. também está disponível a inscrição no fórum social de participante individual e para organizações.
Na página há informações sobre hospedagem em Santa Maria e outras orientações para a ida para o Fórum e a Feira.
Também há uma parte com fotos dos FSM. Se vcs tiverem fotos da participação da ES nos FSM, enviem para forum@fbes.org.br para que possamos ampliar a galeria.
Acessem a página em www.fsmecosol.org.br

» Programação do I Fórum Social de Economia Solidária

Fonte: Organizadores do evento
As cidades de Canoas, Santa Maria e Porto Alegre (Rio Grande do Sul/Brasil) sediarão em janeiro de 2010 as atividades do I Fórum Social de Economia Solidária e da I Feira Mundial de Economia Solidária.
Acesse a prévia da programação do Fórum Social de Economia Solidária em www.fsmecosol.org.br .

Atividades dos Fóruns Brasileiro e Estaduais de ES » FBES realiza pré-lançamento de Campanha do Consumo Responsável e Selo da Economia Solidária.



Secretaria Executiva do FBES (forum@fbes.org.br)
Neste dia 15 de dezembro, dia da Economia Solidária, o FBES realizará, durante o encerramento da sua IX Reunião da Coordenação Nacional e logo após a abertura da Feira de Goiás de Economia Solidária, uma cerimônia de pré-lançamento da Campanha Nacional pelo Consumo Responsável e do Selo da Economia Solidária.
O evento acontecerá na Praça do Trabalhador, em Goiânia/GO, às 20h, aberto ao público, com a presença das/os 100 representantes da Coordenação do FBES vindas/os dos 27 Fóruns Estaduais de Economia Solidária e das 7 Entidades Nacionais (Cáritas, Unisol, Unicafes, Unitrabalho, Anteag, IMS e Rede de ITCPs). O motivo de se tratar de um pré-lançamento é desencadear um amplo processo de construção e consulta coletivas durante o ano de 2010, a partir da Caravana de Mobilização da Economia Solidária, a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2010 ("Economia e Vida") e a mobilização rumo à II Conferência Nacional de Economia Solidária.
Campanha do Consumo Responsável
A proposta de realização de uma campanha de consumo é antiga no FBES, e foi reforçada durante na VIII Reunião da Coordenação Nacional em dezembro de 2008. Em linhas gerais, o objetivo da campanha é tanto denunciar as transnacionais e o consumo alienado de seus produtos quanto visibilizar as alternativas que existem de produtos e serviços oriundos de outra lógica de organização econômica, pautadas na solidariedade, cooperação, respeito ao meio-ambiente e na autogestão.
A forma de construção desta campanha envolverá, desde a sua concepção até as estratégias de divulgação e mobilização, diversos outros movimentos sociais, organizações e redes da sociedade civil, num esforço de buscar articular agendas e construir convergências entre diferentes lutas de transformação social, como a agroecologia, a emancipação das mulheres, as reformas agrária e urbana, o meio-ambiente, os direitos humanos individuais e coletivos, a denúncia aos transgênicos e agrotóxicos, a denúncia do atual modelo de desenvolvimento baseado nas grandes transnacionais, entre outros.
Selo da Economia Solidária
Desde 2006 o FBES está envolvido na construção, junto ao FACES do Brasil, Ecojus, SENAES, MDA e outros atores, na construção do Sistema Nacional de Comércio Justo e Solidário (SNCJS). Durante este tempo, foi consolidada uma proposta quanto aos critérios e gestão deste sistema público que encontra-se em tramitação na Presidência da República e que será um grande avanço no reconhecimento não só dos empreendimentos de Economia Solidária mas também de modos de se fazer a comercialização que contenham em si os princípios e valores da Economia Solidária e do Comércio Justo e Solidário.
Neste sentido, o FBES tomou a iniciativa, em sua VIII Reunião Nacional em 2008, de propor o lançamento de um selo organizacional da Economia Solidária, com o objetivo de reforçar a identidade não só de princípios e valores mas também política da Economia Solidária como perspectiva de desenvolvimento sustentável, solidário e a partir da realidade do território e cultura locais.
Ou seja, trata-se de um selo que indicará que um determinado empreendimento é de fato um empreendimento de Economia Solidária, que faz parte do movimento e que segue os princípios fundamentais definidos no SNCJS e na IV Plenária Nacional de Economia Solidária, como a democracia na atividade econômica (Autogestão), o protagonismo das mulheres, o respeito ao meio-ambiente, a participação em redes e cadeias solidárias e nos debates políticos do movimento nos Fóruns de Economia Solidária e em outros espaços e articulações da sociedade civil.
Com o pré-lançamento, será iniciado um amplo debate nos Fóruns Locais de Economia Solidária e também com as organizações parceiras que participam da construção do SNCJS ou que têm acúmulo nos Sistemas Participativos de Garantia. Os Fóruns Estaduais de São Paulo e de Minas Gerais já estão fazendo o debate e devem se tornar referências para o debate nos outros estados e na construção nacional.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Tecnologia Social agroecológica vence Prêmio Finep na Região Sul



Os vencedores nas etapas regionais e nacional dividirão R$ 29 milhões em financiamentos pré-aprovados

Foto: Finep
Tecnologia-social-agroecologica-vence-Premio-Finep-na-Regiao-Sul.jpg


02/12/2009 - O projeto “Quintais Orgânicos de Frutas”, desenvolvido pelo Centro de Pesquisa Agropecuária de Clima Temperado da Embrapa, foi o grande vencedor na categoria Tecnologia Social do Prêmio Finep – Região Sul. Criado para compor o Programa Fome Zero, em 2003, o projeto já implantou mais de 910 pomares na Região Sul, totalizando 63 mil árvores frutíferas orgânicas. As espécies são as mais variadas – do pêssego à cereja-do-Rio-Grande, ameaçada de extinção. São mais de 30 mil beneficiários até hoje, entre famílias assentadas, comunidades indígenas, quilombolas e escolas públicas. A Embrapa fornece as mudas, os insumos para o solo e a vegetação quebra-vento, além de fazer um acompanhamento quadrimestral das plantações. O objetivo é combater a desnutrição nas populações mais humildes e resgatar a tradição de se manter um pomar no quintal de casa.



segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Agroecologia Urbana


O que é Agroecologia Urbana? Este conceito define o uso do solo urbano agricultável como um recurso para a produção de alimentos, neste caso, aquele pedaço de solo no terreno de sua casa onde o solo está a vista, coberto por mato e que pode muito bem servir para plantar hortaliças. Boa parte da renda familiar destinada a alimentação, é voltada para a compra de hortifrutigranjeiros, ou, na maioria dos casos da população com menos poder aquisitivo, a falta desses vegetais em sua alimentação contribui para uma subnutrição, a chamada "erosão alimentar"
Uma maneira de economizar dinheiro e melhorar a qualidade de vida pela alimentação é aproveitando estas parcelas do terreno e transformando-as em hortas, essas hortas podem ser feitas de forma comunitária ou individual. O custo da produção é muito baixo comparado aos ganhos, na maioria dos casos, o preço das sementes, é parecido com o preço de 1 Kg destes produtos nos mercados, e produzirão com certeza muito mais que 1 Kg de alimento.
Para deixar o solo rico em nutrientes uma boa dica é a confecção de uma composteira, você pode fazer em uma caixa de madeira ou em qualquer recipiente, sem o fundo diretamente sobre o solo, coloque nele uma base de areia e largue toda matéria orgânica a seguir e cubra com folhas secas, a composteira deve estar bem aerada, sem usar tampa e sim coberta por folas secas, grama ou mato cortado. Todo tipo de matéria orgânica serve, as folhas secas que caem das árvores, a grama cortada, restos de alimentos e é claro o seu lixo orgânico. Desta forma você re-aproveita todo esse material que seria destinado ao lixo comum, e contribui de uma forma mais ampla ajudando na separação do lixo (em lixo seco e lixo orgânico), dessa forma você ajuda também todos aqueles que vivem da coleta de materiais recicláveis.
Essas ações geram uma reação em cadeia muito importante para a sociedade.
Você economiza colhendo os frutos de sua horta, produz seu próprio adubo separando o lixo orgânico e ajuda as pessoas que vivem da reciclagem do lixo seco. O desenvolvimento sustentável deve antes de qualquer coisa ser pensado para ser solidário. Assim como você poderá ter um retorno material, pela economia e qualidade de parcela dos alimentos que levará a sua mesa, facilitará a vida das pessoas que ajudam e muito o meio ambiente. Os "catadores", as pessoas que vivem da reciclagem. Percebeu o que uma simples horta em sua casa pode fazer, o quanto pode contribuir para a sociedade?
Não se precisa nem fazer pesquisa para saber de uma coisa: nossos avós utilizavam boa parte de seus quintais para plantar no mínimo vegetais para se ter uma salada ou um tempero, produzido por eles mesmos.
Podemos alegar que não há tempo, que é difícil e que comprar num mercado ou feira é mais fácil. Mas o fato é, que se quisermos podemos dedicar um tempinho de meia hora pelo menos, no preparo de uma horta, aos poucos, utilizando um pouco do tempo ocioso, num ócio até mesmo criativo. Sim, há jardins comestíveis, em vez de se plantar somente flores, pode-se plantar também hortaliças. Uma pequena produção, saudável e esteticamente agradável.

sábado, 28 de novembro de 2009

O ESPAÇO DO CIDADÃO, de Milton Santos (capítulos I e II - Há Cidadãos neste País? e Cidadão Mutilado).

Neste livro, o autor sugere que não há cidadãos no Brasil e sim consumidores e usuários de bens e serviços, pelo fato de que o governo através do cientificismo proposto por economistas durante o regime criou um modelo de desenvolvimento que acabou sufocando culturalmente as pessoas em nome de um avanço capitalista, usando um modelo político e cívico instrumentais ao modelo econômico. Tem uma proposta redemocratizadora para o país, abrindo espaço para o debate sobre a distribuição espacial no Brasil e no mundo referentes a um desenvolvimento digno dos homens e da cidadania exercida.
O primeiro capítulo, “Há cidadãos neste país?”, fica dividido em seis textos: introdução ao capítulo; Neoliberalismo e Cidadania Atrofiada; O Não-cidadão do Terceiro Mundo; A Elaboração Brasileira do Não-Cidadão; Uma Sociedade Multitudinária. No segundo capítulo, “O Cidadão Mutilado”, divide-se em oito textos: a introdução; Os Abusos de Funcionários sem Mandato; Fisco e cidadania; Firmas ou Instituições?; Arregimentação e Manipulação; A Atrofia do Sindicalismo; Cidadania Urbana, Cidadania Rural; Comparações Internacionais.
Com pressupostos de desenvolvimento econômico, as massas eram e são seduzidas por esta onda de esperança a um desenvolvimento financeiro, ao qual lhes despertava para o consumo, sendo no momento, evidentes as necessidades materiais e não na esfera imaterial, da cultura e do exercício da cidadania. Desta forma, o modelo de desenvolvimento não tem base filosófica e sim interesse racional para o lucro. Através destes interesses norteadores é que a ciência tem fundamental importância, evoluindo a favor do capitalismo e instrumentalizando esta ideologia capitalista, materializada nas formas de produção e da sociedade, que se vê perdendo uma identidade, perdendo suas raízes em imigrações que fazem com que aja maior número de pessoas nos centros urbanos, sujeitos a pobreza e a alienação, vivendo em periferias sem o mínimo de dignidade, pois, deixaram a vida do campo e suas terras em mãos de grandes empresas.
A questão sobre civilização está presente nesta discussão, onde não pode deixar de lado dois componentes essenciais que são a cultura e o território. Elementos que caracterizam um modo de vida digna a todos e que alcance a todos, um alicerce no qual pode-se dizer que existe e não é cumprida como deveria – a constituição, mesmo que se tenha muito que evoluir – e também não é reclamado, para que assim se faça uma política efetivamente redistributiva respeitando a idéia de que, a economia deve andar de acordo com os padrões culturais e naturais do homem e não uma cultura imposta e inculcada pela mídia as massas e sim aquela que vem de dentro do homem, fazendo legítima a cidadania que respeite a liberdade e o respeito ao ser humano, não obedecendo este fundamento capitalista de liberdade financeira.
Todos somos integrantes de uma sociedade e somos herdeiros de uma cultura e moral, direitos de ter as necessidades básicas atendidas para uma vida digna e decente, direitos a serem reclamados. A cidadania é um exercício que se aprende e que deve ser reproduzido com a devida importância, pois esta consiste no respeito ao ser humano. Isso se torna uma dialética frente a esta disputa de forças entre, sociedade e interesses capitalistas, como esta divisão monetária de classes que fazem com que aja abusos de certas firmas e instituições públicas a favor da economia.
Quanto ao neoliberalismo, a cidadania sofre retrocessos em matéria de conquistas sociais e políticas com alegações pertinentes ao sistema capitalista. Certos valores são distorcidos e há vitória do consumo sobre uma vida comunitária e solidária, a busca pelo status e não aos valores, a burocratização alienante, a educação precária, isso são algumas coisas que fazem com que se tenha uma falta de visão crítica ao que está acontecendo e um conformismo que anestesia a busca de uma luta a favor dos direito trabalhistas e uma remuneração adequada a uma vida digna, assim como, falta de importância do voto e até da própria cultura.esses direitos de cidadania são tratados de forma perversa em países de terceiro mundo, onde verifica-se a diferença de direitos dos que mandam e dos mais pobres. No Brasil as idéias de cidadania, ao contrário dos países do norte, vêm de uma forma mais rápida, o que não possibilita uma formação da déia de forma mais clara, confundindo e alienando. O desenvolvimento acelereado das metrópoles, a desruralização em movimentos migratórios, o consumo de massa, a crescimento econômico, a concentração da mídia, o descaso com a educação, o regime repressor, isto faz com que o cidadão no Brasil seja um consumidor apenas, ou usuário. Isso transforma os lugares a favor de uma classe média que sufoca os mais pobres, induzindo-os ao consumo de massa, impondo gostos e preços, fazendo como meta a criação de necessidades em sujeitos acríticos.
A imposição de instituições privadas de normas e leis abusivas e a discriminação dos diferentes tipos de consumidores, tendo diferentes tipos de privilégios e a falta de direitos trabalhistas mutilam os cidadãos a favor de alguns por meio de organismos fazendários que estipulam regras num jogo financeiro. Há a questão da declaração de renda, que por eventuais erros de preenchimento do contribuinte pode ocasionar a inclusão deste em chamadas malhas finas, grossa, branca, escura e cinzenta, sendo emitido seus dados a outras instituições, quando na maioria das vezes pode ser apenas um erro de preenchimento. No caso das firmas hegemônicas, os bancos, estes através de leis próprias decidem e regulam a vida social em função de interesses privatistas, assim o SPC que sem base legal e autorização, divulga o nome de consumidores como se fossem ladrões, sendo que o próprio sistema facilita a aquisição de bens e serviços e mesmo sabendo da situação econômica da população não tolera atrazos. Na verdade pode-se entender que SPC é um serviço de produção ao crediarista e não ao crédito do consumidor.
As grandes empresas podem cobrar o que querem no Brasil e não há teto de lucos estipulado, como em empresas telefônicas em países do norte. Além disso, há uma tendência em dizer que sindicalismo não é movimento político, quando na verdade, as lutas sindicais para diminuir as injustiças e reclamar as insatisfações dos trabalhadores caracterizam-se evidente movimento político, mas são atacados pela mídia como atos subversivos ao regime e funcionamento da máquina estatal e privada, sendo tratados como criminosos.
A cidadania rural, frente à modernização está cada vez mais desarmada, devido às imposições de um mercado internacional que faz os preços oscilarem e prejudicam a vida do campesino, que não vêem os serviços básicos de assistência social se instalarem no campo, como educação, saúde, segurança, etc. Por um comparativo feito pelo autor percebe-se que o país está atrasado em assistência social comparado a outros países em desenvolvimento, e países que são mais pobres demonstram ao seu modo mais respito a vida, questões referentes a expectativa de vida, educação entre outros, mostram o atraso e o descaso brasileiro.
Estes textos mostram como os indivíduos na sociedade são estimulados ou coibidos através de um pressuposto de desenvolvimento, do país ou individual, a adotarem um modo de vida que beneficia apenas a economia, os interesses privados e as grandes corporações capitalistas, suprimindo a idéia de bens imateriais, a favor do materialismo, do consumo e a aceitação de práticas perversas impostas por um período de globalização, apoiada pela mídia com informações cada vez mais vertiginosas, alienando e usurpando a liberdade humana de ser e ter diversidade cultural.
Esta obra serve de apoio àqueles que precisam de uma visão crítica para eventuais trabalhos relativos ao exercício da cidadania, servindo de provocação ao debate não só acadêmico, mas também aos estudantes de ensino médio e professores, por este tema, que é muito pertinente frente a esta situação cada vez mais assustadora de desrespeito e descaso com o ser humano.
Milton Almeida dos Santos, nasceu em Brotas de Macaúbas (BA), em três de maio de 1926, e fromou-se bacharel em direito, interessava-se muito por história mas sempre correlacionava com a Geografia no qual foi professor emérito da USP, e professor da Universidade Federal da Bahia, lecionou em universidades na Europa, ma África, na América do Norte e do Sul, recebeu o prêmio internacional de Geografia Vautrin Lud e o título de Doutor Honoris Causa em 11 universidades de cinco países. Publicou mais de 40 livros.

Daniel Araújo de Freitas, acadêmico do curso de Geografia Licenciatura Plena da Universidade Federal de Santa Maria, (UFSM).

Possibilismo urbano

Possibilismo urbano

Para uma análise do Fenômeno urbano, Lefèbvre (2002, p.77) sugeriu que a sociedade urbana deveria ser compreendida em três níveis: o global, misto e privado. Desta forma pode-se perceber a linguagem do urbano em relação a suas formas e estruturas, compreendendo suas funções, que tem relação com o espaço vivido e que muda conforme o passar do tempo. As maneiras como as sociedades se organizam é o que dá a forma aos espaços, seja material, através de monumentos e espaços sagrados, assim como , imaterial, espaços de convivência e que têm algum significado particular para as pessoas. Desta forma, a sociedade urbana analisada em seu nível global, diz respeito ao poder do estado como vontade e representação através de estratégias políticas, estratégias baseadas em lógicas, que buscam a organização do espaço urbano, subordinando-o às lógicas de mercado e produção global. No nível misto, analisa-se a cidade, sendo este o nível especificamente urbano, que procura através das formas entender as relações de uma cidade, sua organização e estrutura, que hierarquiza os espaços, que são produtos do nível global como: prédios públicos, monumentos, etc. e do nível privado, os imóveis privados.
Para analisar o espaço urbano e a relação de sua estrutura com suas formas e funções, deve-se entender como essa relação de níveis de análise se dá ao longo do tempo, ou seja, da história, pois o urbano reflete as vontades do estado para com a sociedade, em determinado tempo, assim como as reações dessa sociedade ao estado e ao próprio sistema de produção, que transforma e reorganiza os espaços conforme seus interesses, a sociedade que ali vive, seja na criação de bairros ou loteamentos para a habitação de trabalhadores, como para, o habitar da classe que detém os meios de produção e procuram refúgio e tranquilidade. Assim a cidade, além da moradia e de palco para as ideologias do estado, torna-se um centro administrativo, presa a uma grande teia ou rede de comunicação física ou virtual, onde se confunde os espaços ( o espaço econômico, da informação, das ideias, do transporte, do mercado...), sendo altamente complexa as relações de sua funcionalidade, pois a sociedade que nela vive é dinâmica em suas relações não sendo algo estável e sim sempre em movimento, seja aumentando a dinâmica das relações internas e externas em relação aos modos de produção e a própria cultura, como a estagnação e retraimento. No mundo capitalista, cada cidade tem em si um potencial estratégico seja para produção, como para a intermediação, sendo usadas através de uma lógica global como sede ou apenas sendo extensão de uma firma, isto lembra o determinismo de Ratzel, pois dependendo da localização, clima, condições pedológica, geológicas, assim como, a cultura da sociedade, este centro urbano terá suas características utilizadas por determinados interesses de produção, com os recursos naturais que estiverem disponíveis, assim como a mão de obra. Mas também moldadas conforme o sistema produtivo da indústria que ali se instala.
A sociedade de uma determinada cidade, ao longo de sua história, marca suas visões ideológicas, seus interesses e marca sua cultura através de suas edificações públicas, e seus aparelhos urbanos (praças, ruas, avenidas...), estruturando um sistema urbano, dando funções específicas a cada forma, e caracterizando uma identidade. As funções são alteradas, mudam de lugar e forma, seguindo atualmente uma tendência ideológica de mercado global, que atende aos interesses das grandes firmas hegemônicas e que estimulam o consumo e a não-cidadania, alienando os habitantes com a “muita” informação,atrvés de uma mídia que estimula o consumismo e com as mudanças vertiginosas de tendências e modas. Nem todas as relações do urbano estão ligadas ao mercado, à economia e ao capital. As vivências, a cultura do povo que ali vive, estão intrinsecamente ligados a sua herança cultural e étnica dos que a colonizaram e a fundaram, sendo transformada ao longo do tempo. A cidade sendo vista como espaço social demonstra a sua capacidade de ser peculiar, assim como cada um de seus habitantes o são, este conjunto de idéias resultam em uma identidade urbana que se reproduz. As relações de vizinhança, os bairros que servem para a habitação de trabalhadores, favelas etc., podem fazer com que ajam certos ciclos, como por exemplo:as áreas periféricas onde os que estão a margem do sistema por não terem capacitação mínima para vender sua força de trabalho, vivem na pobreza e entram em um ciclo da pobreza, do qual não conseguem sair, devido à reprodução social e alienação devido a falta de informação e de estímulos representativos em suas vidas. Os diferentes espaços dentro da cidade são criados conforme o desejo e as condições daqueles que os criam, mas estes espaços naturais transformados morfologicamente, também transformam os indivíduos que ali vivem, que o transformam em espaço vivido, que lhe atribuem uma função, estas funções e relações deixam marcado no espaço seus signos e códigos.
Através deste entendimento do espaço urbano, fica difícil limitar possibilidades de análise, pois no espaço urbano, sua infraestrutura e suas normas de utilização, fazem com que a circulação de ideias, seus intercâmbios e os espaços, estejam sempre em movimento, coagindo, se cruzando e super pondo-se, fazendo com que cada indivíduo tenha uma percepção diferente do espaço, que se comunica através de suas obras materiais e imateriais, que deixa signos, expressões de um momento na história, que regulam o espaço vivido, transformando-se dialeticamente, entrando em crise e se reorganizando em uma constante equilibração de interesses, do Estado e dos interesses privados. No urbano, a contradição e a contrariedade das ações do privado e do público, em função do dinheiro, fazendo da mais valia sua principal fonte de lucro, faz com que as relações sejam sempre muito complexas criando segundo Lefebvre (2002, p.33), um campo cego das dimensões do urbano quanto ao seu cotidiano e suas relações sociais neste espaço, assim as análises podem ser sobre as “topias no espaço mental e social” ( Lefebvre, 2002,p. 98), sendo possível investigar as relações do espaço urbano nas mais variadas escalas de análise, sendo ora indutivo, ora dedutivo nas pesquisas para assim, conseguir um resultado mais equilibrado e menos especulativo. Sendo assim, pode-se dizer que há mais possibilidades do que limitações de análise do espaço urbano.


Os ciclos de exploração:

            O primeiro ciclo é o qual a cidade compra do trabalhador rural mercadorias agrícolas por um baixo valor expresso em preço, e adiciona uma taxa de lucro na venda direta ou agrega valor através da industrialização de matérias primas, onde acumulará capital através da mais valia. Com a mecanização e a s novas tecnologias sendo inseridas no campo, diminuem a necessidade de mão de obra e conseqüentemente o trabalhador rural que não é dono de terras é forçado a procurar uma fonte de renda na cidade, vendendo a única coisa que ele possui: a força de trabalho.
            Há uma cadeia de extração de lucros, formadas pro diferentes cidades intermediárias no processo de fluxo da produção rural para a indústria. A matéria prima comprada a custos muito baixos vão agregando preço através do valor acrescido pelos atravessadores, em forma de lucro.
            O investimento urbano no campo é uma estratégia para a oferta de mão de obra barata na cidade para a indústria, através de um exército de reserva de mão de obra, que fica situado na fronteira entre a cidade e o agrário, fazendo com, que apareça uma migração pendular, ora trabalhando no campo ora trabalhando na cidade.
            O produtor rural torna-se um consumidor urbano, isto faz  com a renda do campo seja drenada para a cidade. E assim se forma uma cadeia
            No segundo ciclo, este investimento no campo aparece na forma de financiamentos, provenientes de bancos que drenam a renda fundiária através dos juros cobrados, se alimentando desta economia da dívida. Outra forma são os salários pagos ao trabalhador rural já tornado consumidor urbano.
            O grande proprietário fundiário, também é responsável por essa drenagem da renda do campo, deste valor criado e produzido no campo pra a cidade, pois estes proprietários não moram o campo e sim na cidade sendo investidores urbanos com a renda fundiária. Outra forma de exploração através de investimento no campo é a da industria descentralizada, localizadas em áreas rurais, em conseqüência de vantagens locacionais referentes a distância da produção da matéria-prima, proximidade com mão de obra barata, falta de fiscalização ou menor exigência social relativas a degradação ambiental.
            As formas de redes urbanas: Classificação do IBGE por regiões de influência.


REDE DE ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA

Neste espaço, www.ciranda.net, você poderá cadastrar seu empreendimento participando de uma rede voltada para a economia popular solidária, sendo visto por todos e conhecendo estes empreendedores que por sua vez, podem ser seus consumidores e fornecedores daquilo de que você precisa. Isto gera um conceito chamado "prossumidor", onde você é produtor e consumidor, vendendo e comprando seus produtos de empreendedores da economia solidária, importando sim, a origem daquilo que você compra, fazendo assim um consumo solidário, de forma que a renda fique dentro desta comunidade e não se deixando levar pela mídia das grandes multinacionais que "drenam" a renda local.
Entrem neste site, e façam parte de uma outra economia, uma economia que seja justa, uma economia popular e solidária.

Agroecologia Urbana