sábado, 28 de novembro de 2009

O ESPAÇO DO CIDADÃO, de Milton Santos (capítulos I e II - Há Cidadãos neste País? e Cidadão Mutilado).

Neste livro, o autor sugere que não há cidadãos no Brasil e sim consumidores e usuários de bens e serviços, pelo fato de que o governo através do cientificismo proposto por economistas durante o regime criou um modelo de desenvolvimento que acabou sufocando culturalmente as pessoas em nome de um avanço capitalista, usando um modelo político e cívico instrumentais ao modelo econômico. Tem uma proposta redemocratizadora para o país, abrindo espaço para o debate sobre a distribuição espacial no Brasil e no mundo referentes a um desenvolvimento digno dos homens e da cidadania exercida.
O primeiro capítulo, “Há cidadãos neste país?”, fica dividido em seis textos: introdução ao capítulo; Neoliberalismo e Cidadania Atrofiada; O Não-cidadão do Terceiro Mundo; A Elaboração Brasileira do Não-Cidadão; Uma Sociedade Multitudinária. No segundo capítulo, “O Cidadão Mutilado”, divide-se em oito textos: a introdução; Os Abusos de Funcionários sem Mandato; Fisco e cidadania; Firmas ou Instituições?; Arregimentação e Manipulação; A Atrofia do Sindicalismo; Cidadania Urbana, Cidadania Rural; Comparações Internacionais.
Com pressupostos de desenvolvimento econômico, as massas eram e são seduzidas por esta onda de esperança a um desenvolvimento financeiro, ao qual lhes despertava para o consumo, sendo no momento, evidentes as necessidades materiais e não na esfera imaterial, da cultura e do exercício da cidadania. Desta forma, o modelo de desenvolvimento não tem base filosófica e sim interesse racional para o lucro. Através destes interesses norteadores é que a ciência tem fundamental importância, evoluindo a favor do capitalismo e instrumentalizando esta ideologia capitalista, materializada nas formas de produção e da sociedade, que se vê perdendo uma identidade, perdendo suas raízes em imigrações que fazem com que aja maior número de pessoas nos centros urbanos, sujeitos a pobreza e a alienação, vivendo em periferias sem o mínimo de dignidade, pois, deixaram a vida do campo e suas terras em mãos de grandes empresas.
A questão sobre civilização está presente nesta discussão, onde não pode deixar de lado dois componentes essenciais que são a cultura e o território. Elementos que caracterizam um modo de vida digna a todos e que alcance a todos, um alicerce no qual pode-se dizer que existe e não é cumprida como deveria – a constituição, mesmo que se tenha muito que evoluir – e também não é reclamado, para que assim se faça uma política efetivamente redistributiva respeitando a idéia de que, a economia deve andar de acordo com os padrões culturais e naturais do homem e não uma cultura imposta e inculcada pela mídia as massas e sim aquela que vem de dentro do homem, fazendo legítima a cidadania que respeite a liberdade e o respeito ao ser humano, não obedecendo este fundamento capitalista de liberdade financeira.
Todos somos integrantes de uma sociedade e somos herdeiros de uma cultura e moral, direitos de ter as necessidades básicas atendidas para uma vida digna e decente, direitos a serem reclamados. A cidadania é um exercício que se aprende e que deve ser reproduzido com a devida importância, pois esta consiste no respeito ao ser humano. Isso se torna uma dialética frente a esta disputa de forças entre, sociedade e interesses capitalistas, como esta divisão monetária de classes que fazem com que aja abusos de certas firmas e instituições públicas a favor da economia.
Quanto ao neoliberalismo, a cidadania sofre retrocessos em matéria de conquistas sociais e políticas com alegações pertinentes ao sistema capitalista. Certos valores são distorcidos e há vitória do consumo sobre uma vida comunitária e solidária, a busca pelo status e não aos valores, a burocratização alienante, a educação precária, isso são algumas coisas que fazem com que se tenha uma falta de visão crítica ao que está acontecendo e um conformismo que anestesia a busca de uma luta a favor dos direito trabalhistas e uma remuneração adequada a uma vida digna, assim como, falta de importância do voto e até da própria cultura.esses direitos de cidadania são tratados de forma perversa em países de terceiro mundo, onde verifica-se a diferença de direitos dos que mandam e dos mais pobres. No Brasil as idéias de cidadania, ao contrário dos países do norte, vêm de uma forma mais rápida, o que não possibilita uma formação da déia de forma mais clara, confundindo e alienando. O desenvolvimento acelereado das metrópoles, a desruralização em movimentos migratórios, o consumo de massa, a crescimento econômico, a concentração da mídia, o descaso com a educação, o regime repressor, isto faz com que o cidadão no Brasil seja um consumidor apenas, ou usuário. Isso transforma os lugares a favor de uma classe média que sufoca os mais pobres, induzindo-os ao consumo de massa, impondo gostos e preços, fazendo como meta a criação de necessidades em sujeitos acríticos.
A imposição de instituições privadas de normas e leis abusivas e a discriminação dos diferentes tipos de consumidores, tendo diferentes tipos de privilégios e a falta de direitos trabalhistas mutilam os cidadãos a favor de alguns por meio de organismos fazendários que estipulam regras num jogo financeiro. Há a questão da declaração de renda, que por eventuais erros de preenchimento do contribuinte pode ocasionar a inclusão deste em chamadas malhas finas, grossa, branca, escura e cinzenta, sendo emitido seus dados a outras instituições, quando na maioria das vezes pode ser apenas um erro de preenchimento. No caso das firmas hegemônicas, os bancos, estes através de leis próprias decidem e regulam a vida social em função de interesses privatistas, assim o SPC que sem base legal e autorização, divulga o nome de consumidores como se fossem ladrões, sendo que o próprio sistema facilita a aquisição de bens e serviços e mesmo sabendo da situação econômica da população não tolera atrazos. Na verdade pode-se entender que SPC é um serviço de produção ao crediarista e não ao crédito do consumidor.
As grandes empresas podem cobrar o que querem no Brasil e não há teto de lucos estipulado, como em empresas telefônicas em países do norte. Além disso, há uma tendência em dizer que sindicalismo não é movimento político, quando na verdade, as lutas sindicais para diminuir as injustiças e reclamar as insatisfações dos trabalhadores caracterizam-se evidente movimento político, mas são atacados pela mídia como atos subversivos ao regime e funcionamento da máquina estatal e privada, sendo tratados como criminosos.
A cidadania rural, frente à modernização está cada vez mais desarmada, devido às imposições de um mercado internacional que faz os preços oscilarem e prejudicam a vida do campesino, que não vêem os serviços básicos de assistência social se instalarem no campo, como educação, saúde, segurança, etc. Por um comparativo feito pelo autor percebe-se que o país está atrasado em assistência social comparado a outros países em desenvolvimento, e países que são mais pobres demonstram ao seu modo mais respito a vida, questões referentes a expectativa de vida, educação entre outros, mostram o atraso e o descaso brasileiro.
Estes textos mostram como os indivíduos na sociedade são estimulados ou coibidos através de um pressuposto de desenvolvimento, do país ou individual, a adotarem um modo de vida que beneficia apenas a economia, os interesses privados e as grandes corporações capitalistas, suprimindo a idéia de bens imateriais, a favor do materialismo, do consumo e a aceitação de práticas perversas impostas por um período de globalização, apoiada pela mídia com informações cada vez mais vertiginosas, alienando e usurpando a liberdade humana de ser e ter diversidade cultural.
Esta obra serve de apoio àqueles que precisam de uma visão crítica para eventuais trabalhos relativos ao exercício da cidadania, servindo de provocação ao debate não só acadêmico, mas também aos estudantes de ensino médio e professores, por este tema, que é muito pertinente frente a esta situação cada vez mais assustadora de desrespeito e descaso com o ser humano.
Milton Almeida dos Santos, nasceu em Brotas de Macaúbas (BA), em três de maio de 1926, e fromou-se bacharel em direito, interessava-se muito por história mas sempre correlacionava com a Geografia no qual foi professor emérito da USP, e professor da Universidade Federal da Bahia, lecionou em universidades na Europa, ma África, na América do Norte e do Sul, recebeu o prêmio internacional de Geografia Vautrin Lud e o título de Doutor Honoris Causa em 11 universidades de cinco países. Publicou mais de 40 livros.

Daniel Araújo de Freitas, acadêmico do curso de Geografia Licenciatura Plena da Universidade Federal de Santa Maria, (UFSM).

Possibilismo urbano

Possibilismo urbano

Para uma análise do Fenômeno urbano, Lefèbvre (2002, p.77) sugeriu que a sociedade urbana deveria ser compreendida em três níveis: o global, misto e privado. Desta forma pode-se perceber a linguagem do urbano em relação a suas formas e estruturas, compreendendo suas funções, que tem relação com o espaço vivido e que muda conforme o passar do tempo. As maneiras como as sociedades se organizam é o que dá a forma aos espaços, seja material, através de monumentos e espaços sagrados, assim como , imaterial, espaços de convivência e que têm algum significado particular para as pessoas. Desta forma, a sociedade urbana analisada em seu nível global, diz respeito ao poder do estado como vontade e representação através de estratégias políticas, estratégias baseadas em lógicas, que buscam a organização do espaço urbano, subordinando-o às lógicas de mercado e produção global. No nível misto, analisa-se a cidade, sendo este o nível especificamente urbano, que procura através das formas entender as relações de uma cidade, sua organização e estrutura, que hierarquiza os espaços, que são produtos do nível global como: prédios públicos, monumentos, etc. e do nível privado, os imóveis privados.
Para analisar o espaço urbano e a relação de sua estrutura com suas formas e funções, deve-se entender como essa relação de níveis de análise se dá ao longo do tempo, ou seja, da história, pois o urbano reflete as vontades do estado para com a sociedade, em determinado tempo, assim como as reações dessa sociedade ao estado e ao próprio sistema de produção, que transforma e reorganiza os espaços conforme seus interesses, a sociedade que ali vive, seja na criação de bairros ou loteamentos para a habitação de trabalhadores, como para, o habitar da classe que detém os meios de produção e procuram refúgio e tranquilidade. Assim a cidade, além da moradia e de palco para as ideologias do estado, torna-se um centro administrativo, presa a uma grande teia ou rede de comunicação física ou virtual, onde se confunde os espaços ( o espaço econômico, da informação, das ideias, do transporte, do mercado...), sendo altamente complexa as relações de sua funcionalidade, pois a sociedade que nela vive é dinâmica em suas relações não sendo algo estável e sim sempre em movimento, seja aumentando a dinâmica das relações internas e externas em relação aos modos de produção e a própria cultura, como a estagnação e retraimento. No mundo capitalista, cada cidade tem em si um potencial estratégico seja para produção, como para a intermediação, sendo usadas através de uma lógica global como sede ou apenas sendo extensão de uma firma, isto lembra o determinismo de Ratzel, pois dependendo da localização, clima, condições pedológica, geológicas, assim como, a cultura da sociedade, este centro urbano terá suas características utilizadas por determinados interesses de produção, com os recursos naturais que estiverem disponíveis, assim como a mão de obra. Mas também moldadas conforme o sistema produtivo da indústria que ali se instala.
A sociedade de uma determinada cidade, ao longo de sua história, marca suas visões ideológicas, seus interesses e marca sua cultura através de suas edificações públicas, e seus aparelhos urbanos (praças, ruas, avenidas...), estruturando um sistema urbano, dando funções específicas a cada forma, e caracterizando uma identidade. As funções são alteradas, mudam de lugar e forma, seguindo atualmente uma tendência ideológica de mercado global, que atende aos interesses das grandes firmas hegemônicas e que estimulam o consumo e a não-cidadania, alienando os habitantes com a “muita” informação,atrvés de uma mídia que estimula o consumismo e com as mudanças vertiginosas de tendências e modas. Nem todas as relações do urbano estão ligadas ao mercado, à economia e ao capital. As vivências, a cultura do povo que ali vive, estão intrinsecamente ligados a sua herança cultural e étnica dos que a colonizaram e a fundaram, sendo transformada ao longo do tempo. A cidade sendo vista como espaço social demonstra a sua capacidade de ser peculiar, assim como cada um de seus habitantes o são, este conjunto de idéias resultam em uma identidade urbana que se reproduz. As relações de vizinhança, os bairros que servem para a habitação de trabalhadores, favelas etc., podem fazer com que ajam certos ciclos, como por exemplo:as áreas periféricas onde os que estão a margem do sistema por não terem capacitação mínima para vender sua força de trabalho, vivem na pobreza e entram em um ciclo da pobreza, do qual não conseguem sair, devido à reprodução social e alienação devido a falta de informação e de estímulos representativos em suas vidas. Os diferentes espaços dentro da cidade são criados conforme o desejo e as condições daqueles que os criam, mas estes espaços naturais transformados morfologicamente, também transformam os indivíduos que ali vivem, que o transformam em espaço vivido, que lhe atribuem uma função, estas funções e relações deixam marcado no espaço seus signos e códigos.
Através deste entendimento do espaço urbano, fica difícil limitar possibilidades de análise, pois no espaço urbano, sua infraestrutura e suas normas de utilização, fazem com que a circulação de ideias, seus intercâmbios e os espaços, estejam sempre em movimento, coagindo, se cruzando e super pondo-se, fazendo com que cada indivíduo tenha uma percepção diferente do espaço, que se comunica através de suas obras materiais e imateriais, que deixa signos, expressões de um momento na história, que regulam o espaço vivido, transformando-se dialeticamente, entrando em crise e se reorganizando em uma constante equilibração de interesses, do Estado e dos interesses privados. No urbano, a contradição e a contrariedade das ações do privado e do público, em função do dinheiro, fazendo da mais valia sua principal fonte de lucro, faz com que as relações sejam sempre muito complexas criando segundo Lefebvre (2002, p.33), um campo cego das dimensões do urbano quanto ao seu cotidiano e suas relações sociais neste espaço, assim as análises podem ser sobre as “topias no espaço mental e social” ( Lefebvre, 2002,p. 98), sendo possível investigar as relações do espaço urbano nas mais variadas escalas de análise, sendo ora indutivo, ora dedutivo nas pesquisas para assim, conseguir um resultado mais equilibrado e menos especulativo. Sendo assim, pode-se dizer que há mais possibilidades do que limitações de análise do espaço urbano.


Os ciclos de exploração:

            O primeiro ciclo é o qual a cidade compra do trabalhador rural mercadorias agrícolas por um baixo valor expresso em preço, e adiciona uma taxa de lucro na venda direta ou agrega valor através da industrialização de matérias primas, onde acumulará capital através da mais valia. Com a mecanização e a s novas tecnologias sendo inseridas no campo, diminuem a necessidade de mão de obra e conseqüentemente o trabalhador rural que não é dono de terras é forçado a procurar uma fonte de renda na cidade, vendendo a única coisa que ele possui: a força de trabalho.
            Há uma cadeia de extração de lucros, formadas pro diferentes cidades intermediárias no processo de fluxo da produção rural para a indústria. A matéria prima comprada a custos muito baixos vão agregando preço através do valor acrescido pelos atravessadores, em forma de lucro.
            O investimento urbano no campo é uma estratégia para a oferta de mão de obra barata na cidade para a indústria, através de um exército de reserva de mão de obra, que fica situado na fronteira entre a cidade e o agrário, fazendo com, que apareça uma migração pendular, ora trabalhando no campo ora trabalhando na cidade.
            O produtor rural torna-se um consumidor urbano, isto faz  com a renda do campo seja drenada para a cidade. E assim se forma uma cadeia
            No segundo ciclo, este investimento no campo aparece na forma de financiamentos, provenientes de bancos que drenam a renda fundiária através dos juros cobrados, se alimentando desta economia da dívida. Outra forma são os salários pagos ao trabalhador rural já tornado consumidor urbano.
            O grande proprietário fundiário, também é responsável por essa drenagem da renda do campo, deste valor criado e produzido no campo pra a cidade, pois estes proprietários não moram o campo e sim na cidade sendo investidores urbanos com a renda fundiária. Outra forma de exploração através de investimento no campo é a da industria descentralizada, localizadas em áreas rurais, em conseqüência de vantagens locacionais referentes a distância da produção da matéria-prima, proximidade com mão de obra barata, falta de fiscalização ou menor exigência social relativas a degradação ambiental.
            As formas de redes urbanas: Classificação do IBGE por regiões de influência.


REDE DE ECONOMIA POPULAR SOLIDÁRIA

Neste espaço, www.ciranda.net, você poderá cadastrar seu empreendimento participando de uma rede voltada para a economia popular solidária, sendo visto por todos e conhecendo estes empreendedores que por sua vez, podem ser seus consumidores e fornecedores daquilo de que você precisa. Isto gera um conceito chamado "prossumidor", onde você é produtor e consumidor, vendendo e comprando seus produtos de empreendedores da economia solidária, importando sim, a origem daquilo que você compra, fazendo assim um consumo solidário, de forma que a renda fique dentro desta comunidade e não se deixando levar pela mídia das grandes multinacionais que "drenam" a renda local.
Entrem neste site, e façam parte de uma outra economia, uma economia que seja justa, uma economia popular e solidária.

Agroecologia Urbana