Publicado em 27/04/2011 pelo(a) Wiki Repórter Bruno Lima Rocha, Viamão - RS
Tanto lá como cá, as Câmaras de Comércio não falam pelo cidadão comum e somente e tão somente pelos grandes conglomerados e suas marcas predatórias ou auxiliares. Retirar a legitimidade dos órgãos oficiais de intermediação do capital é uma das bases de trabalho do movimento 350.org, ponteiro na luta contra as mudanças climáticas e na responsabilização do capitalismo por esta desgraça terrestre. - Foto: greenconduct
Na segunda semana de abril, mais de 10 mil pessoas se reuniram em Washington D.C. para discutir, organizar, mobilizar-se e protestar em torno questão da mudança climática. Enquanto os veículos de comunicação destacavam algumas concentrações de centenas de pessoas em vários pontos do país, articuladas pelo movimento tea party em virtude do dia de declaração de impostos, o popular encontro Power Shift 2011 não foi coberto por nenhuma mídia.
O encontro aconteceu na semana anterior ao Dia da Terra, data próxima do primeiro aniversário da explosão da plataforma petroleira da British Petroleum (BP) e do 25º aniversário do desastre de Chernobyl, ao tempo em que a planta nuclear de Fukushima continuava emitindo radiatividade ao meio ambiente. Com este cenário de fundo, a força e a paixão renovadas do movimento contra a mudança climática garantem que este não poderá ser ignorado por muito tempo.
Leia também, ao final dos créditos da coluna, o comentário da equipe do portal.
Bill McKibben, o ambientalista, ensaísta e fundador da 350.org (campanha internacional que visa criar um movimento para unir o mundo em torno de soluções para a crise climática) participou do gigantesco encontro. Lá nos disse: “Esta cidade está tão contaminada como Beijing. Mas em lugar de fumaça de carvão, está contaminada pelo dinheiro. O dinheiro perverte nossa vida política e nubla nossa visão. (...) Agora sabemos o que temos que fazer e o primeiro passo é construir um movimento. Nunca vamos ter tanto dinheiro como as empresas petroleiras, de modo que precisamos de uma moeda diferente para trabalhar, precisamos organização, precisamos de criatividade, precisamos de energia”.
Os organizadores do Power Shift descrevem o evento como um campo de treinamento intensivo, que capacita uma nova geração de ativistas de base com o objetivo de que regressem às suas comunidades e construam o movimento convocado por McKibben. Os ativistas atuam em três campanhas: Catalizar a economia da energia limpa; A universidade e o desafio climático 2.0, e Para além das energias contaminantes. Estas campanhas atravessam os setores mais importantes da sociedade estadunidense.
A iniciativa por uma economia de energia limpa conta com o apoio da Federação Estadunidense do Trabalho-Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO, sigla do seu nome em inglês), que vê um grande potencial nos novos tipos de energia para a geração de emprego, seja na construção de turbinas de vento e instalação de painéis solares, seja num dos setores mais ecológico e freqüentemente ignorado: a adaptação de edifícios já existentes para melhorar a eficiência energética através do isolamento térmico e da impermeabilização.
Na segunda-feira 18 de abril, dia da declaração de impostos nos Estados Unidos, milhares de pessoas realizaram uma manifestação chamada “Que os grandes contaminadores paguem”, contra as indústrias de combustíveis fósseis e energia não renovável. Os manifestantes reuniram-se em Lafayette Park, praça tradicionalmente utilizada para realizar manifestações, que se encontra entre a Casa Branca e a Câmara de Comércio Estadunidense.
Como disse Bill McKibben, “Os irmãos Koch são altos picos de corrupção, mas a Câmara de Comércio dos Estados Unidos é o Monte Everest do dinheiro sujo. Vangloria-se em seu site de ser o maior lobista de Washington, de fato gasta mais dinheiro em fazer lobby do que os cinco lobistas que lhe seguem em importância tomados em conjunto. Gastou mais dinheiro em política no ano passado que o Comitê Nacional Republicano e o Comitê Nacional Democrata juntos, e 94% desse dinheiro se destinou a financiar sujeitos que renegam a mudança climática”.
Também houve protestos em frente aos escritórios da BP, pouco depois da petroleira realizar uma assembléia de acionistas em Londres. No local, policiais impediram a entrada de uma delegação de quatro pescadores e pescadoras das zonas da Costa do Golfo de México nos estados de Louisiana e Texas que foram gravemente prejudicados pelo derrame de petróleo em 2010.
Diane Wilson, quarta geração de uma família de pescadores, foi presa por crime contra a ordem pública. “Levaram-me à força e me prenderam. Fui acusada de alterar a ordem pública. Eu ri disso e falei ’Alterar a ordem pública da BP?’. Isso foi muito indignante. Eles alteram nossas vidas, mas consideram que, apenas por aparecer na entrada da assembléia geral da BP, nós estamos alterando a ordem pública”.
A maior parte dos que participaram do Power Shift 2011 não tinham nascido quando sucederam os desastres nucleares de Three Mile Island e Chernobyl. Estes jovens, que buscam um futuro energético sustentável e renovável, agora estão entendendo o significado do que o Presidente Barack Obama denomina “renascimento nuclear”. A crise nuclear em Fukushima aumentou em gravidade até atingir o nível sete, o máximo de risco e o mesmo registrado em Chernobyl. Os melhores prognósticos indicam que as fugas radiativas persistirão por meses, com impactos na saúde e no meio ambiente impossíveis de adivinhar.
Será que Obama vai continuar com a ideia de repartir 80 bilhões de dólares em garantias de empréstimos para construir mais plantas nucleares nos Estados Unidos? O presidente afirma estar na contramão da redução de impostos dos ricos, mas... O que dizer dos subsídios públicos ao petróleo, o gás, o carvão e a energia nuclear, que se destinam às indústrias mais ricas do planeta?
Recentemente, construímos novos estúdios para transmitir ao vivo as notícias do Democracy Now! em emissoras de televisão e rádio públicas dos Estados Unidos. Nossas instalações de TV/rádio/Internet são as mais ecológicas do país, e o Conselho da Construção Ecológica dos Estados Unidos nos outorgou o reconhecimento de Liderança em Desenho Energético e Ambiental (LEIAM Platinum). O meio é a mensagem. Todos devemos fazer a nossa parte para contribuir na luta pela sustentabilidade.
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